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Reflexões

dualidades, dualismos, duelos…

Posted by Edgar on

Fiat lux! E, separada das tervas, a luz se fez. Se fez? Fez-se a si mesma? Ou foi feita? Pouco importa, não era sobre isso que eu queria escrever…

Há dias que a noite nos convida ao abandono da rotina, nos convida à inversão dos horários e, ainda que tentemos negar, sucumbimos. Há dias em que a noite é nossa melhor amiga. Há dias que não. Dias e noites, dualidades.

Dualidades são a base do pensamento ocidental. Não necessariamente opostas, como quer o maniqueísmo de alguns, não necessariamente complementares, como quer a filosofia de outros. Dualismos, duelos… disputas binárias entre lados, colados ou opostos, afinal, extrema se tangunt, pero no mucho.

Às vezes minha mente divaga. E um riso interno se desponta, “às vezes”? Divagar é o caminhar distraído da mente por si mesma, uma condição de sua existência, eu diria. Mas eu dizer algo e nada é quase o mesmo, afinal, quem sou eu? Um zé qualquer… mentira, para ser zé teria, antes, de ser José, o que não é o caso. Devagar, seu Edgar. Ou dêgar, como se diz na minha família, ou em parte dela… dê-vá-gar… divagar, divagando… pobres almas que me lêem.

Should I stay or should I go. The Clash. Quando a banda se chama “the clash”, pouco importa se vou ou se fico, o impacto é certeiro. Irônico. Intencional. Vá saber. A grande vantagem da semiótica é ver o que se quiser ver. Me lembro de uma aula no mestrado. Nela o professor dizia que, uma vez terminado o texto, ele não nos pertence mais. Cada um lê o que quer ler. Na aula o professor citava alguém cujo o nome me escapa, alguém que ao ler uma resenha sobre um livro seu disse “eu não disse nada disso”. Desvios, afinal, não era disso que eu queria falar.

Hell or High Water? Essa é do KISS. Tocou justamente enquanto eu escrevia o parágrafo acima. Ironia? Intencional? Vá saber… segundo o oráculo, a expressão hell or high water pode ser traduzida por chova ou faça sol, doesn’t matter, como diria meu amigo Rafael. Dualismos reduzidos a um corolário. Duelamos cotidianamente. Entre isso ou aquilo. Entretanto, há quem diga que as coisas não são simples assim, preto no branco… existem os 50 tons de cinza. 50? Só 50? Ilusões, os tons, sejam de cinza, sejam de lilás, verde ou da sua cor preferida, são meras variações de luminosidade… mais luz, mais claro, menos luz, mais escuro… o degradê é apenas um efeito da luz sobre a cor. Luz? Não foi com isso que eu comecei o texto? Faça-se a luz…

Se você me acompanha até aqui, já deveria ter deixado isso de lado e ir fazer algo útil de sua vida. Ah, dualidades… Útil, inútil. Há quem ganhe a vida num fretado para outra cidade, há quem a perca nele. Eu já vivi essa vida. Dualidades, duas cidades, o trabalho útil, o sentimento inútil. Nessa época eu tinha um walkman e uma fita K7 do Bruce Springsteen. Todos os dias, úteis, com a cabeça colada no vidro sujo do ônibus, eu ouvia The River sem prestar muita atenção na letra. “Now all them things that seemed so important / Well mister they vanished right into the air“. Um dia decidi abandonar o rio. Tolo, nessa época eu ainda não conhecia Heráclito. O rio nunca é o mesmo, mas é sempre um rio.

Rio. Rio de mim mesmo. Muitas vezes. Rir de si mesmo é um santo remédio. Há quem se leve muito a sério. E, por favor, não confunda fazer as coisas com seriedade com ser sério. Há uma fundamental diferença. Rir de si mesmo é um exercício de auto conhecimento, coisa socrática, mas ai eu teria de explicar Sócrates, e, na moral, não estou afim.

Fim.

😉

Confissões

Se o seu pai pudesse escolher, você acha que o filho seria você?

Posted by Edgar on

Quando eu tinha meus 10 anos, lá pelos idos de 1983, ouvi I Love It Loud do KISS. Virei fã. Aos 10 anos de idade, nos anos 1980, éramos umas topeiras se comparados às crianças de hoje. Quando eu tinha 10 anos havia 5 canais de TV. Se acontecesse de cair um meteoro na URSS ou de um prédio sofrer um atentado terrorista, saberíamos disso 2 ou 3 dias depois. A informação caminhava mais lentamente nessa época. Mas, ainda assim, aos 10 anos de idade, eu conheci o KISS. Aos 12, enquanto eu saia de uma loja de discos com um vinil do KISS, ouvi um carinha mais velho, de uns 17 anos, dizer que eu era poser, que o KISS era uma bosta e que eu era viado por escutar aquela banda de bichas maquiados. O irônico é que ele vestia uma camiseta do Judas Priest. Foda-se, KISS é legal. Foi o que eu quis dizer, mas o medo de apanhar daquele cara foi maior e eu sai de fininho com a cabeça baixa.

No mundo do Rock/Metal sempre houve essa rixa. Sua banda é uma bosta. A minha é que é boa. Já me meti em altas discussões por conta disso. Aos 15 aprendi a tocar bateria. Bom, sejamos justos, tentei aprender. O que você sabe tocar? Paradise City do Guns’n Roses. Que lixo, seu bosta. Cara, eu me achava o máximo tirando uma música inteira na batera sem ter feito uma aula em escolas ou conservatórios, mas ou você tocava Master of Puppets sem nenhum erro ou você era um bosta. Eu era um bosta. Acho que sempre fui.

Quando entrei no colégio técnico a rixa transladou para as linguagens de programação. Você programa em quê? Dataflex. Dataflex? Que bosta. Bom mesmo é Object Pascal. Dataflex pagava meu salário (com o qual eu comprava discos do KISS), Object Pascal era a masturbação nerd da época. Ninguém entendia o que era Orientação à Objetos em 1991, poucos ainda entendem! Visual Basic? Lixo. Andar com um livro de C++ te tornava um semi-deus, assim como dominar as macros no Lotus 123. Eu sabia tudo sobre macros em Lotus 123, dava até aulas disso para os caras de uma série acima da minha, mas eu curtia KISS e programava em Dataflex. Eu era um bosta. Sempre fui.

A lista de coisas que eu faço ou sei que me enquadraram na categoria “você é um bosta” é longa. Não vale a pena cansar seus nervos óticos com ela. Depois de um tempo, com a maturidade que só o tempo proporciona, mas nem sempre, eu compreendi que sempre haverá alguém para te dizer que você é um bosta. Um familiar, um chefe, uma colega de trabalho, o cobrador do ônibus, aquela irmã gostosa do carinha que senta no fundão e, pasme, as vezes, você mesmo vai se dizer: você é um bosta. Eu sou.

A banda Detrito Federal, uma banda punk dos anos 1980, tinha uma música cujo refrão perguntava: se o seu pai pudesse escolher, você acha que o filho seria você? Toda vez que vejo um colega professor dizer que fulano é um bosta, pelo motivo que for, eu penso naquele moleque de 10 anos de idade curtindo I Love It Loud feito um babuíno com ataque epilético. Nunca fui o melhor aluno, repeti de ano duas vezes. Me meti em mais cagadas que a média nacional. Nunca fui exemplar em nada e, ainda por cima, ouvia KISS. Um bosta-mor.

Onde eu quero chegar? Lugar nenhum. Mentira. A história de cada um é cheia de escolhas que serão julgadas pelos outros. Pouco importa quanto você esteja apaixonado pelo que faz, sempre haverá quem diga que você é um bosta. Você faz cerveja? Sim. Segue a Reinheitsgebot? Não. Ah, você é um bosta. É implacável. Mas, sejamos justos, acreditar nisso, que você é um bosta, isso é opcional.

Beijo do bosta.

😉

escrivinhações

Sobre o que eu leio e sobre o que eu não quero falar…

Posted by Edgar on

Eu ainda não sei o título desta postagem. De certo que, agora, no seu presente, meu passado, você está lendo ele, há um título. No entanto, agora, no meu presente, seu futuro, o título ainda é uma incógnita. A verdade é que eu não sei bem sobre o que eu vou escrever. Os últimos dias nas redes sociais foram estranhos, um clima de agitação, comoção, agressão, incompreensão… vivemos dias estranhos. Mas, e eu já disse isso antes, em outros tempos, em outros blogs, com outras palavras… todos os tempos são estranhos, apenas na história, escrutinadora do que já houve, os tempos ganham clareza — quando ganham.

Quer saber, não vou falar sobre essas coisas… da morte de ilustres celebridades desconhecidas à horda dos defensores da família tradicional, eu, malandrão, poderia fazer como aquele garoto do ENEM e escrever aqui uma receita de miojo, com queijo, mioqueijo, uma das minhas melhores produções culinárias. Mas não vou falar, menos ainda dar a receita, do meu mioqueijo.

Acabei de ler um livro escrito pelo Gene Simmons, baixista, vocalista e dono do KISS. EU, S.A. Um livro sobre como ser bem sucedidos nos negócios. Ok, você se perguntou por que diabos eu teria comprado um livro desses? Simples, eu sou fã do KISS. Ponto. O livro é interessante pela história de vida de um garoto israelense, pobre, que vendia frutas no ponto de ônibus, que décadas depois virou Gene Simmons. Virou não, se fez. No mais, o livro é bom. Vale a leitura. É do Gene! O cara do KISS. Sim, eu sou fã e fã é assim. Ponto final.

Ainda estou lendo o livro do Feyerabend. Matando o tempo é uma autobiografia. Veja que interessante, também de um menino pobre, austríaco, que não vendia frutas no ponto de ônibus, que décadas depois se fez um dos maiores filósofos da ciência. Sou fã. Já era fã. Ainda não terminei a leitura, eu já disse. Estou cada vez mais fã do Paul Feyerabend. Ponto.

Ser fã de alguém é legal. Pessoas que nos inspiram. Pessoas que nos impulsionam. Parâmetros. Paradigmas (Hello, Kuhn!). Eu sou fã de muita gente. Gente que eu conheço, gente que eu jamais vou conhecer. Pouco importa. Sou fã do Gene e do Feyerabend. Dificilmente vou conhecer o Gene em algum lugar, menos ainda o Feyerabend, que já morreu. Sou fã do Cortella, de quem ganhei um livro autografado sem o conhecer pessoalmente, longa história, fica pra outro dia. Sou fã do Paulão do Velhas Virgens, mas esse eu conheci pessoalmente, troquei ideias pelo twitter e email, tirei foto junto. Coisa de fã. Sou fã de grandes mestres, professores que me inspiraram e hoje leciono com eles, somos colegas de trabalho. Ser fã é legal. Ser fã é saudável. O problema — e sempre há um problema — é ser fanático. Ai, mermão, ferrou. Mas eu não quero falar disso, pois vou cair naquilo que eu disse que não ia falar alguns parágrafos acima.

Já sei o título!! E você já sabia dele desde o início. Estranho, não?

Até o próximo.