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Filosofadas/Reflexões

Ações e Reações…

Posted by Edgar on

Ainda que não possamos ver, cada tênue movimento de nossos corpos desloca o ar em nossa volta. Sutil, todo movimento reverbera. Aprendi isso ainda jovem, quando um passo em falso me lançou contra quase um tonelada em movimento. O impacto desligou-me. Mas não era disso que eu queria falar.

Agir por impulso, dizem os oráculos, é uma característica dos da minha espécie. Impulsos é a quantidade de movimento de um objeto, por sua vez, esse movimento é resultante da aplicação de uma força. Física básica, mas eu não manjo nada de física, ou quase nada.

O que nos move? O que te impulsiona? Dinheiro, fama, poder, sexo, amor, solidariedade, dó, compaixão, raiva, ódio… o que te empurra para o abismo? Abismo? Sim, parece trágico. Poderia ser ao paraíso, mas eu duvido que o paraíso exista, o impulso para às portas do céu, se eficiente, nos deixará em órbita, sem controle; se ineficiente, nos fará cair na mesma velocidade, uma queda impactante, eu diria… devagar, divagando!

Ando em conflito com minha natureza impulsiva. Ando pensando mais, ponderando, calculando… sinais de velhice, dirão uns. Sinais de muitas cicatrizes, dirão outros. Mimimi, dirá a maioria. Pois nada mais conveniente à maioria que fórmulas mágicas para os problemas alheios. Quem quer vai e faz. Segura na mão de deus. É melhor se arrepender do que fez que do que não fez… blá blá blá. Quando é o seu buraco, sempre o buraco é mais embaixo… buraco, abismo, sacou?

Então, me chame de covarde. Pois a covardia é outro nome para a sabedoria. Mentira, não é. Mas daria um bom ditado popular, desses que muita gente inadvertidamente copia e cola. A covardia é um reflexo. Uma reação. Há sempre um algo que desperta o covarde. Dito de outra forma, só se é covarde perante uma ação. Isolada, a covardia não existe. O mesmo vale para a coragem. Mas este texto não é sobre coragem.

Um dos males de quem se mete a programar computadores é pensar de forma lógica. Bom, nem todos. A maioria, talvez. São tantos desvios condicionais que você se pega fazendo não só o algoritmo da coisa, mas aplicando no mesmo um teste de mesa, debugando, para ser mais contemporâneo. Mas a gente sempre esquece de um ponto-e-vírgula. Chega, esse papo está ficando muito restrito.

Emoções são cavalos selvagens. Eu li isso num livro do Paulo Coelho (mea culpa, vou me chibatar, já volto).

Quando você monta um cavalo selvagem, já era, não há rédeas, ele simplesmente faz o que quer. E você, amigão, já era. Eu só nunca compreendi como se monta um cavalo selvagem, pois, em tese, ele há de disparar antes de você subir nele, não depois… bem, olha o programador analisando a coisa…

O movimento do outro produz reverberações. Tudo repercute. Cada ato nosso provoca um abalo sísmico ao nosso redor. Isso afeta a quem nos cerca e, por sua vez, quem nos cerca, ao reagir, provoca novos abalos. A vida é um pêndulo oscilando… e o pulso, ainda pulsa.

Eu olho em volta e vejo múltiplos pontos ondulatórios reverberando próximos ao meu centro de gravidade. Sinto-os todos, todos me afetam. Mas nem todos me impulsionam. O que me move?

Bem, não era sobre nada disso que eu queria dizer.

E.

escrivinhações

fragmentos…

Posted by Edgar on

Naquele momento um nó se fez em sua voz. Um nó amargo. Não que não houvesse palavras a dizer. Havia. Mas a dor de tais palavras, amargas e presas na garganta haviam de ser açoites de pura chama para aqueles olhos brilhantes que esperavam uma resposta. A crueza da vida. A crueldade da verdade. Não. Simplesmente, não. Uma única palavra seria suficiente para destruir todos os sonhos, todas as juras. Um não capaz de romper a perfeição circular e estilhaçar o mais duro diamante. Não, não seria para sempre, pois o sempre é uma ilusão. Nada é para sempre. E, ainda que a poesia queira que o eterno dure o que for justo durar, não é. Todo esse rodopio de uma fração de segundos que lhe transbordava a mente silenciou-se quando ela repetiu a interrogação:

– Para sempre?
– Sim!

E o fel todo desceu-lhe ao estômago, o caldeirão da mentira, queimando-lhe por dentro e fazendo brotar uma lágrima de puro sal.

escrivinhações

Tudo bem!

Posted by Edgar on

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe?
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Ou nada sei.

Almir Sater & Renato Teixeira

Eu precisei me afastar para que, flutuando no intervalo que separa meus elétrons de meu núcleo atômico, eu pudesse ver com mais clareza. Eu me afastei. Eu sei que isso causou dor. Mas você, você me resgatou mesmo assim. Deixou que minha instabilidade quântica destilasse todas as minhas incertezas e, com um sorriso cósmico, disse as palavras de sempre: tudo bem com você?

Tudo bem! Nossa conexão vem de tempo imemoriais. Nossa ligação independe da tecnologia, seria igual por sinais de fumaça, ondas de rádio ou redes WiMAX. É telepática, às vezes. É a nossa conexão. Por isso, está tudo bem!

Você sabe, das coisas que me importam, eu sou a menos importante. Não sei ser sem estar conectado aos que me cercam. Ainda que os afazeres do dia-a-dia me tomem tempo demais, sempre estou pensando naqueles e naquelas que me são queridos. São poucos, mas são todos eu. Estranho, mas é assim. E você, de todos, talvez a única que me entende, ainda que você pense o contrário. Por isso, sempre estarei por perto. E, sim, eu sei, a reciproca é verdadeira.

Não importa a forma, seja numa conversa de whatsapp, seja dividindo um churros pecaminoso, ou, ainda, tirando sarro do garçom mega atencioso do nosso japa preferido. Importa que essa coisa que vem de sabe-se deus quando esteja sempre ai… e estará.

Tudo bem 😀

OV

Crônicas/Reflexões

Andanças…

Posted by Edgar on

O caminho é sempre o mesmo. A playlist vai ao sabor da aleatoriedade. As pessoas nos carros olham-me com um ar indignado. Elas lá, presas em seus ares condicionados, eu cá, em meio a manhã, vagando… Há uma fábrica no meio do caminho. Caminhões, operários, o cheio de óleo diesel misturam-se com a brisa gelada. Ao meu lado, um estudante. Sua mochila pesa mais que o necessário. O volume da música é baixo, assim posso ouvir o som de meus passos. As folhas de bambu balançam ao vento. Uma senhora cruza meu caminho. Seu olhar cruza o meu. Um olhar sofrido. Aceno timidamente com a cabeça, como que diz bom dia sem mover os lábios. Ela retribui mais timidamente ainda e aperta o passo. Ao longe, vejo-a subir no ônibus. Vejo copos de papel pelo gramado. Um maço de cigarros vazio. Uma embalagem de sorvete. Penso no que eu disse outro dia a um grupo de jovens, sobre porque jogamos lixo nas ruas. Quando dou pro mim, já estou novamente entre os bambuzais. As folhas rodopiam no chão, misturam-se à areia. Outros dois estudantes dividem o trecho comigo. Suas mochilas também parecem pesar mais que o necessário. Conversam sobre algo que não consigo compreender, suas palavras misturam-se à letra da música que ouço. A música fala de um amor qualquer. Os estudantes riem. Há uma cumplicidade. No serás capaz de odiarme. Enquanto o refrão da música me faz pensar em tantas coisas já vividas, os estudantes seguem em frente. Eu faço a curva. Pelos vidros vejo as estantes, os livros. Entrei poucas vezes naquela biblioteca. Deveria entrar mais, penso. A playlist joga com minhas ideias. As pernas seguem o trajeto. Olho para a bandeira que tremula. Janelas de escritórios, gabinetes. O centro de poder é feito de concreto e vidro, a biblioteca de vidro e metal. O lago é falso. Artificial. Mas não deixa de ser belo. As ondulações da água refletem o tímido sol que se esconde atrás de nuvens. A timidez do sol, a minha timidez, a timidez daquela senhora. O farol está vermelho para mim. Me obriga a parar. As pessoas nos carros continuam a me olhar com indignação. Luz verde, cruzo a avenida. Vejo o apresentador do jornal chegando à TV. Seu rosto é familiar. Mas não faço ideia de sua vida, de sua trajetória, de quem seja. Penso em quantas pessoas realmente me conhecem. 4 Non Blondes começa a tocar. Banda de uma música só. O cheio de diesel continua no ar, a fábrica e os caminhões olham para mim e me perguntam: what’s going on? Ou será a música? Em frente a universidade pública, um carro se joga contra mim. E me xinga. Ousadia minha transitar justo na hora que sua máquina e sua pressa cruzam a calçada. O susto me traz de volta sem que eu pudesse responder à fábrica, aos caminhões ou à música. A portaria do condomínio está, agora, a poucos metros. Retiro os fones de ouvido e um estranho silêncio se faz…

Confissões

55 metros quadrados…

Posted by Edgar on

Me dei conta, esses dias, que faz um ano que estou neste apartamento. Quando resolvi comprá-lo, minha principal preocupação era se eu me habituaria à vida em 55 metros quadrados! Sem quintal! Pois bem, o fato é que o ambiente compacto me agradou. Sou uma criatura acostumada a me deixar espalhado por ai, quanto menos espaço, menos bagunça! Mentira, a bagunça não tem limites… mas isso é outra história.

Eu já buscava uma forma mais minimalista (mais?) de viver. A limitação espacial contribuiu para o desapego de algumas quinquilharias. Os móveis planejados ajudam, otimizam o uso do espaço e, no fim das contas, o cubículo ficou funcional e aconchegante. Já tive uma casa de 200 metros quadrados, dois andares, garagem para 5 carros, quintal gramado e blá, blá blá… outros tempos. Não sinto falta. Já desenvolvi uma relação de afetuosidade com este cantinho.

Viver nos 55 metros quadrados tem sido divertido, já a vida em condomínio, essa sim me levou a outro nível de compreensão da humanidade…

Percebi que os donos de cães, por mais biodegradáveis que sejam as fezes dos seus entes queridos, não acham desagradável ver um cocozinho definhando até se cumprir a passagem do pó vieste ao pó voltarás… Ainda que se aponte o fato nos grupos das redes sociais, existe uma cumplicidade estranha. Ainda que sejam poucos os moradores que deixam ao deus dará os restos fecais de seus pimpolhos caninos, aqueles que não o fazem, suavizam o ato, pois, ao meu ver, vá que o seu totó deixe para trás aquele cocozinho justo no dia que o dono esqueceu a sacolinha… melhor é ver as crianças do condomínio, sobretudo as pequenas, vez ou outra, pegando o cocozinho seco achando que é uma pedrinha, um galhinho, ou sei lá o quê…

Por falar em crianças, escolhi o mesmo condomínio que todos os casais recém casados e com seus rebentos recém paridos escolheram… a depender do horário, há uma sinfonia de choros. Não me incomoda, falo sério. 20 anos morando na rua da feira, na esquina onde as cândinhas do bairro se punham a debater os detalhes das vidas alheias, criaram em mim uma tolerância ao burburinho. Às vezes, a noite, acordo com o som do choro de um bebê com dor de dente, barriga ou com pura birra. Tranquilo, aproveito para ver o Tinder, tentar dar uns likes, e volto a dormir…

Por falar em likes, fora os casais recém casados com seus rebentos recém paridos, há muitos estudantes. Afinal, meu condomínio fica a 500m de uma universidade pública. À época da compra, pensei, isso será um mar de bacanais, festas, orgias, gente pelada na piscina. Ledo engano. Acho que esses estudantes são todos um bando de CDFs… bom, quase todos, vez ou outra, no transcurso do estacionamento ao meu bloco, em um bloco em específico, a brisa que emana pelo passeio denuncia os rituais ao deus Jah… mas nada de universitárias nuas na piscina… talvez os filmes dos anos 80 tenham criado um campo de distorção da realidade neste jurássico que vos escreve…

E por falar em piscina. Nunca a usei. Esta lá. No único fim de semana que eu me aventurei a dar uma sapeada na piscina, descobri que eu e mais 108 pessoas, 107 não moradoras, tiveram a mesma ideia. Vale destacar que as dimensões da piscina comportam, talvez, 25 pessoas. Não é nem a alta concetração de urina na água que me desmotiva. Sou criatura aquática, adoro dar minhas braçadas, mergulhos e tals… mas, na companhia de 1 morador e seus 107 convidados, há o grande risco de acertar a careca do tio José numa braçada, ou de vir, num mergulho, de encontro ao nariz, agora ensanguentado, do netinho de vovó Valentina, ou, ainda, no limite do perigo, de ser encoxado por dona Marta, aquela dona Marta das tirinhas do Glauco, no diminuto espaço entre a escadinha e a quina da piscina…

Acho que deu por hoje!

E.