Envelhecer é opcional!
Mais um ano que se passa. Há quem conte-os em primaveras, outonos, verões ou invernos. O fato é que eu já vivi 42 deles. Quarenta e dois. Pode parecer estranho, mas eu não tenho quarenta e dois anos. Em certos aspectos, tenho mais, pois me valho de todo um conhecimento acumulado ao longo de séculos. Meus amigos filósofos, com quem sempre tomo uma cerveja ou um café, viveram em épocas outras. Há dias em que pela manhã bato um papo com Aristóteles e, logo mais, à noite, proseio com Paulo Freire. Vou do século IV a.C ao século XX d.C. em poucas páginas. Trago comigo um saber que ultrapassa meus meros 42 anos de existência. As vezes me sinto um highlander, que na embriaguez com as palavras e ideias de tantos outros que antes de mim viveram, viveu inúmeras eras. Em outros momentos, tenho menos. 42 anos parece algo distante dos meus jeans, tênis sujos e camisetas de banda. Culpa da Educação, essa profissão-paixão que me dá doses diárias de juventude. Trabalhar com as cabeças pensantes nos bancos universitários, nas escolas de ensino fundamental ou médio, nos cursos preparatórios, me coloca em contanto com gente nova, gente jovem. Novas porque me eram desconhecidas, jovens porque escolheram não envelhecer.
Idade é um conceito. Um marco referencial. Óbvio que há um aspecto cronológico, a medição do tempo físico, aquele certo número de voltas que a Terra deu ao redor do Sol. Voltas que embalam nossa jornada neste pálido ponto azul. Voltas, reviravoltas, idas e vindas. Os anos passam, sempre. Mas a idade é um conceito líquido, para evocar outro dos meus interlocutores preferidos, o Bauman. As vezes vejo textos idiotas que dizem que mulheres de 30 anos são isso ou aquilo. Como se ter trinta anos fosse condição para ser melhor que alguém de 18, 7 ou 76… As balzaquianas que me desculpem, conheço gente de trinta que é vazia feito saco de pipoca em fim de sessão, conheço gente de 13 com uma quase clarividência. Idade é um conceito, não um fato. Julgar alguém pela idade é diminuir a pessoa a um número, só isso.
Aos 13 anos eu fui atropelado. Culpa minha. Atravessei a rua sem olhar e POW! Um fusca me lançou de cara no asfalto, rachou meu crânio, quebrou meu omoplata, ralou meus ombros e joelhos. Ganhei uma cicatriz sobre os lábios e perdi a camiseta mais legal que eu tinha nessa época. Naqueles dias de recuperação, algo mudou. Nada místico, nada transcendente, mas ser abalroado por um VW Sedan 1300 não é um evento sem sequelas. Difícil explicar, mas depois de ser atropelado, eu acordei do meu sono dogmático, mas isso é assunto para outro momento, voltemos aos 42.
Quando eu fazia minha primeira graduação, em Letras, eu era só mais um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco. Sem saber, eu era um sartriano que ainda não tinha lido Sartre. Me pergunto como pude chegar aos 20 anos sem sequer ouvir falar em Sartre? Culpa da escola, culpa da escola da minha época. Eu não tive aulas de filosofia quando estava no ensino fundamental ou médio, graças ao governo militar de 1964, até o meu ingresso na universidade, filosofia era algo distante da minha vida escolar. Sartre sempre foi um filósofo que eu levei aos meus alunos de ensino médio, para que eles não fossem tolhidos como eu fui! Até hoje tenho que justificar porque eu larguei uma carreira na Informática para ser professor de Filosofia. Outra coisa difícil de explicar, outro assunto para outro momento. Voltemos aos 42.
Com 30 anos eu já tinha ido ao inferno e voltado algumas vezes. Sim, minha vida pode parecer fácil. Cerveja, duas férias por ano e mais cerveja. É, mermão, você vê a versão Director’s Cut, não o Making-Off! A vida me deu rasteiras, e eu dei muita pernada 3×4 sem me despentear. Dei algumas rasteiras, mea culpa, não sou perfeito. Pedi menos desculpas do que deveria, apanhei mais do que merecia. Ou não, falamos de um ponto de vista, sempre. Ao longo dos 30 eu fui e voltei do inferno várias vezes. Algumas vezes, em público, mas na maioria das vezes, sozinho. Difícil explicar, já sabe, fica pra outro momento. Voltemos aos 42.
Com 40 eu nasci. A vida começou aos 40. É o que dizem. Com 40 eu me perdi. Com 40 eu entendi que ter 13, 20, 30 ou 40, dá no mesmo. Erramos, acertamos. Erramos mais e mais feio, pois a experiência conduz a perfeição. Com 80 serei mestre em fazer cagadas. Com 90 serei um buda iluminado, de jeans e tênis sujos, camiseta do KISS e mais incertezas que certezas. Menos acertos que erros. Mas calma, errar é humano. Seguir em frente é o único caminho. As vezes sento para falar com Aristóteles, para entender como a vida funciona. Noutras vezes, sento com Bauman, com Rousseau, Raul Seixas e, pasme, até com Xavantinho e Pena Branca, ou seria o contrário? Tem dias que Sartre é meu melhor amigo. Tem dias que meros mortais são a melhor saída. Tem dias que os Rockers me salvam. Tem dias que a Larissa Outono me salva, tem dias que o Andrew me salva. Ah se não fossem os cafés com o Felipe Telo. Fora todas as vezes que a Laura me salvou sem saber (e salvará muitas mais!). Houve dias que meus irmãos me salvaram. Sem falar nos meus pai e mãe, que salvaram mais do que precisavam. Difícil explicar… deixemos os 42 de lado.
Idade é um conceito. Não se apegue a ela. Se apegue à vida, pois a vida é muito mais que a soma das voltas e reviravoltas que este pálido ponto azul deu ao redor do Sol. A vida é aqui, é agora.
Até os 43!
Edgar